Por Chico Alencar, membro da CBJP.
No Evangelho desse domingo (Lucas 9, 18-24), Jesus indaga aos seus discípulos “quem o povo diz que eu sou?”. Depois, a eles próprios: “e para vocês, quem sou?” (19, 20).
Sem pretensão de poder e glória, lembra que será rejeitado pelos anciãos (tidos como sábios), pelos sacerdotes e pelos doutores da Lei. Um Messias na contramão dos poderosos de seu tempo (22). O anti-rei.
Essa pergunta ecoa até hoje, sobretudo no mundo “ocidental e cristão”: quem é Jesus para cada um(a) de nós?
A resposta da fé é pessoal e intransferível. Não vale a do “cristão do censo demográfico”, da conveniência de “ir na onda”!
A imagem de Cristo é muito usada para enganar, ganhar grana, resignar, promover “salvação” individual. Um Jesus “quebra-galho”. Ou um cristianismo de ostentação, com crucifixo de ouro no peito e vazio no coração.
O meu Jesus Cristo – o Deus encarnado, que viveu a maravilhosa e trágica condição humana, de luz e cruz, presépio e calvário – é companheiro, exemplo, estímulo, pai/mãe/irmão.
Prova do sagrado que nos habita (e em tudo que pulsa e viceja e move). Sagrado que, manifestado no Emanuel (Deus conosco) da Bíblia, está também no Krishna do hinduísmo, em Oxalá, o maior dos orixás, no Lama do budismo, em Maomé do islamismo, no Moisés do judaísmo, em Tupã e todas as divindades indígenas evocadas pelos Xamãs.
Todas as crenças são respeitáveis, desde que não impostas. Expressão do humaníssimo desejo de permanência.
Essa aspiração está em todo/as aqueles que buscam ver o invisível no visível, o eterno no provisório, o transcendente no imanente, a vida depois da morte – e antes dela também.
Jesus Cristo é síntese da humana caminhada: vida-morte-ressurreição. É mais fácil exibir fé nele que ter a fé dele: “renunciar a si mesmo, tomar a cruz de cada dia e segui-lo” (23) na estrada.
Nesses mais de 2 mil anos, os artistas fizeram inúmeras imagens do fascinante Jesus. O traço de união, a policromia tem uma só cor: a do amor. Gosto de crer, de gostar Dele!
Aprendi com meu pai (que era agnóstico), criança ainda, uma canção linda de Luís Vieira (1928-2020), “Menino de Braçanã” : “Quem anda com Deus não tem medo de assombração/ e eu ando com Jesus Cristo no meu coração!”.
Assim seja, sempre!